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Macau e a Rota da Seda: “Macau nos Mapas Antigos” Série de Conhecimentos (I)

Olhar a História    |    Yang Xunling

Como era a única terra onde os portugueses viviam no litoral chinês, Macau tornou-se, naturalmente, a partir da segunda metade do século XVI, num ponto chave importante da Rota da Seda por via marítima. Há quem pergunte, se o ponto de partida da Rota da Seda por via marítima não era Quan Zhou, então como passou a ser Macau? Na verdade, a Rota da Seda não é um conceito estático, ou seja, pode evoluir de forma diferente nos diversos períodos da História. O Porto de Guangzhou da Dinastia Tang e da Dinastia Song do Norte, e o Porto de Quanzhou da Dinastia Song do Sul até à Dinastia Yuan, ao Sul, foram sucessivamente os pontos de partida da Rota Marítima da Seda e os “primeiros maiores portos do Oriente”. Portanto, precisamos de interpretar bem qual é o conceito da “Rota da Seda”.

I. O que é a “Rota da Seda”

A “Rota da Seda” não é um termo que desde sempre tenha sido usado. Foi antes um conceito criado e utilizado pelo académico alemão Ferdinand Freiherr von Richthofen (1833-1905) (Figura 1) no seu livro “China: Ergebnisse eigener Reisen und darauf gegrundeter Studien” publicado em 1877, no qual se referia à rota de comércio e transporte da China para a Europa. Este nome rapidamente se espalhou e se tornou conhecido e passou a ser usado por todos. Mais tarde, os estudiosos chineses e estrangeiros continuaram a introduzir novos conteúdos ao termo“Rota da Seda”, com base em novas descobertas e estudos. Actualmente, a maioria dos estudiosos acreditam que a Rota da Seda é um nome geral que se aplica às rotas de transporte de longa distância de bens e intercâmbios culturais que conectavam outras partes do continente eurasiático com a China antiga. Os produtos comercializados através da Rota da Seda não são apenas a seda, mas também porcelanas, papel, chá, etc.; contudo, a seda foi a mais representativa de todos os tipos de produtos comercializados nos primeiros tempos do comércio, daí ter dado origem ao termo “Rota da Seda”.

Figura 1 Ferdinand Freiherr von Richthofen (1833-1905)

Deve-se notar que a Rota da Seda não é apenas uma “estrada”, mas um conjunto de diversas estradas entrelaçadas. Com a mudança das dinastias e das áreas geográficas, as antigas estradas foram abandonadas e as novas estradas foram abertas. Portanto, em diferentes períodos históricos, a Rota da Seda demostrou diferentes aspectos. Existiam a Rota da Seda por via terrestre e a Rota da Seda por via marítima, eis“Uma Faixa, Uma Rota” na História da China (Figura 2).

Kircher Map of the Various Routes to China, 1667

Figura 2 “Uma Faixa, Uma Rota” no “Mapa de Diversas Rotas para a China” (1667) de Athanasius Kircher, entre as quais, uma das rotas marítima é marcada como “Iter in Chinan” (rota da China) e o seu destino é Macau.
Citada de Kircher, A. (1667). Tabula Geodoborica Itinerum a varijs in Cataium susceptorum rationem exhibens. In China monumentis, qua sacris qua profanis, nec non variis naturae & artis spectaculis, aliarumque rerum memorabilium argumentis illustrata. Esta figura é uma ilustração que se encontra entre as páginas 2 e 3.

II. Rota da Seda nos mapas desde os primórdios

Os primórdios refere-se aqui ao tempo antes da Era dos Descobrimentos. A descrição da Rota da Seda nos mapas deste período tem duas principais fontes de conhecimento:

A primeira fonte é a descrição da antiga Grécia-Roma. Já no século III A.C., a seda chinesa havia chegado à Ásia Ocidental e era transportada através do Mar Mediterrâneo para os países da Europa e do norte de África via terra ou via mar. De acordo com o registo em Naturalis Historia do romano Pliny the Elder 1, os romanos do século I eram fanáticos pela seda chinesa e acreditavam que este tecido era feito a partir de matérias-primas colhidas das árvores. O mapa “Tabula Peutingeriana” 2 (Figura 3) de 1265, coleccionada na Biblioteca Nacional da Áustria, é uma transcrição baseada num mapa do século IV ou séculoV D.C., que descreve as estradas, os rios, as montanhas, etc., do Império Romano e dos países vizinhos. A conexão entre as cidades daquela época era feita por estradas, dando origem à expressão“todos os caminhos levama Roma”. No extremo leste deste mapa, uma estrada é marcada como“Sera major”, indicando que esta estrada faz parte da Rota da Seda que nos leva a Sera, capital do país da seda Serica.

FIgura 3 Rota da Seda no“Tabula Peutingeriana” (Parcial)

Cláudio Ptolemaeus (100-170), que vivia em Alexandria no século II D.C., resume a descrição da China dos antigos romanos no seu livro Geographia: Sinae (o nome que os romanos deram à China), fica ao lado da Índia a oeste, do mar no sul, a orla costeira estende-se para sul até ao continente desconhecido do hemisfério sul, ao norte de Sinae é o país de seda imaginada Serica, que é rica em sedas, sendo a sua capital Sera e o seu povo chamado de Seres. Na verdade, estes dois lugares pertenciam à China, mas por causa dos registos de diferentes fontes em diferentes períodos, os antigos romanos acreditaram erradamente que Sinae e Serica eram dois países diferentes. Os mapas desenhados na obra original de “Geographia” de Claudius Ptolemaeus perderam-se, mas nos séculos XV a XVI um grande número de mapas conseguiram ser restaurados e reproduzidos com base nos princípios cartográficos e as coordenadas da obra de Claudius Ptolemaeus. Entre as colecções de Harley, na Biblioteca Britânica, há um “Totius Orbis Habitabilis Brevis Descriptio” (Figura 4), desenhado em pergaminho. Este mapa é uma cópia da segunda metade do século XV, e no seu canto superior direito estão desenhadas separadamente Sinae e Serica.

Figura 4 Sinae e Serica no “Mapa do Mundo” (colecção de Harley na Biblioteca Britânica)
Citado de Anonymous, Map of the world, Harley 7182 ff. 58v-59.

A segunda fonte é uma descrição das viagens dos exploradores representados por Marco Polo (1254-1324). No século XIII, os mongóis estabeleceram o seu império no continente eurasiático, limpando os obstáculos da Rota da Seda por via terrestre, por isso houve muitos comerciantes europeus que vieram fazer comércio no Extremo Oriente, entre os quais Marco Polo é um dos mais famosos. Muitos nomes dos locais ao longo da Rota da Seda apareceram nos mapas desse período, por exemplo, Khitay (escrito no mapa como Cathay ou Chataio), o nome da dinastia chinesa, cuja capital era Chambaleth, a capital da Dinastia Yuan, ou seja, a cidade de Pequim de hoje; a Xixia, na Rota da Seda por via terrestre, os mongóis chamavam-a “Tangut”, “mangi pro” da etnia Han do sul, e era o ponto de partida da Rota da Seda por via marítima, “Ciutat de zayton” de Quanzhou, etc. O Atlas Catalão de 1375 (Figura 5-6) coleccionado na Biblioteca Nacional de França e o Mapa-múndi de Fra Mauro (Figura 7-8) coleccionado no Museu Correr de Veneza, Itália foi desenhado por volta de 1450. Estes dois mapas são os mais representativos deste período.

Figura 5 - Caravanas de camelos para a China no “Atlas Catalão” (parcial)

Figura 6 Cidade de Quanzhou no “Atlas Catalão” (parcial)

Figura 7 “Mapa-Múndi de Fra Mauro”

Figura 8 Khitay e sua capital Chambaleth no “Mapa-Múndi de Fra Mauro” (parcial)

Nos mapas desta altura, misturaram os nomes dos lugares chineses usados nos seus diferentes períodos históricos e em muitos deles também foram desenhadas várias pessoas e animais lendários. Isso mostra uma das características da Rota da Seda do tempo inicial, ou seja, nenhum país ou nação tinha possibilidade de controlar ou dominar toda a Rota da Seda, mas passaram-se regional por regional para completar toda a jornada. Devido a esta característica, as pessoas das extremidadess leste e oeste da Rota da Seda do tempo inicial só puderam fazer a descrição relativamente verdadeira e objectiva das áreas que conheciam, logo a compreensão do outro lado mais distante contava com o conhecimento antigo e os boatos para preencher o desconhecido, muito da qual contava com a imaginação e ficção das pessoas. Esta situação limitou o desenvolvimento da cartografia; por sua vez, naquela altura não havia mapas reais, o que limitava ainda mais as descobertas geográficas, mais outras condições restritivas, era difícil realizar verdadeiramente um intercâmbio comercial e cultural em larga escala de âmbito global.

III. Macau e as rotas orientais nos mapas

Em meados e no final do século XIV, o Império Mongol estava em declínio, e a Rota da Seda encontrou muitos obstáculos. No entanto, a descrição sobre a China nos livros de viagem ao Oriente, especialmente o livro de Marco Polo despertou o grande desejo dos europeus de fazer negócio com o Oriente e de vir pregar a religião no Oriente. Começando com a conquista de Ceuta em 1415, no reinado do Rei de Portugal, D. João I, os portugueses abriram o prelúdio da Era dos Descobrimentos. Eles exploraram os oceanos desconhecidos, pouco a pouco, ao longo da orla costeira e das ilhas de África, levando 83 anos para chegar a Malindi (1498) na África Oriental, onde só completou a metade da rota oriental, e ali frota naval, liderada pelo navegador Vasco da Gama (1460-1524)recebeu a ajuda do navegador árabe Majid, que viajaram com sucesso pelo Oceano Índico até Carrickat, na Índia, no ano corrente. Depois disso, os portugueses levaram apenas um curto período de dez anos para avançar na rota para Malaca, e por volta de 1514 já chegaram perto do estuário do Rio das Pérolas, completando basicamente a exploração da rota oriental, o que demorou exactamente em total de cem anos. Comparado com os primeiros oitenta anos, os últimos dez anos e mais tiveram uma velocidade de exploração muito surpreendente. Isto não é porque os conhecimentos ou as tecnologias dos portugueses avançaram bruscamente, mas aprenderam com os árabes, que já dominaram a rota desta parte, por outras palavras, aproveitaram a antiga roda marítima da seda, ampliou e expandiu a rota para oeste, contornando o Cabo da Boa Esperança, com acesso directo à Europa Ocidental através do Oceano Atlântico.

Desta forma, embora na Rota Oriental estabelecida pelos portugueses encontraram tempestades, doenças, piratas e muitos outros obstáculos, mas mudou completamente a estrutura da antiga Rota da Seda, ou seja, fizeram as viagens a sós, que anteriormente só poderiam ter sido concluídas através de múltiplos países. Também, o comércio nesta Rota Oriental era mais directo e eficiente do que antes, por exemplo, um carraca portuguesa (geralmente designadas por “nau” em português), geralmente tinham uma carga de mais de 100 toneladas, com capacidade equivalente a uma grande caravana de 300 camelos, para não mencionar os grandes navios à vela de centenas até milhares de toneladas. Isto era incomparável com a Rota da Seda por via terrestre. Nesta Rota Oriental controlada pelos portugueses, Macau era o porto de partida da China, pelo que se tornou na primeira cidade da China a ser integrada na rede urbana mundial desde os primeiros tempos da globalização e tem desempenhado um papel extremamente importante nos intercâmbios do comércio e da cultura entre a China e o exterior ao longo de quase quatrocentos anos.

Os mapas deste período mostram claramente o processo da longa jornada de Portugal para chegar ao Oriente. A descrição do litoral da China e de Macau experimentou uma grande mudança, desde a imprecisão à clareza, dos erros aos acertos. Abaixo usamos alguns conjuntos dos mapas mais representativos para explicar.

(I) Mapa de Cantino de 1502

O “Mapa de Cantino” (Figura 9) é o primeiro mapa do mundo existente, elaborado pelos portugueses, desenhado em 1502 e conservado na Biblioteca de Modena, na Itália. Todo o mapa aplica o estilo de carta náutica português chamado “Padrão Real”, composto por três pergaminhos que, além da orla costeira e das cidades litorais, retratam os castelos, as pessoas, a fauna e a flora num estilo realista, com cores brilhantes, por isso, é uma bela peça de arte.

Cantino World Map

Figura 9 “Mapa de Cantino”

O mapa relata as descobertas geográficas mais recentes daquela época e tem um grande número de notas escritas em diversos lugares para registar os artigos ou as mercadorias locais. No mapa, a bandeira com o brasão de armas de Portugal era marcada nos locais ocupados por Portugal na época, ao conexar esses locais, a rota de Portugal daquela altura podia ser claramente identificada. No mapa é desenhado o Brasil (1500), que foi descoberto apenas dois anos antes de o mapa ser concluído, e os contornos da costa oeste da África são bastante precisos, mostrando que os portugueses estavam muito familiarizados com esta área. No entanto, existem algumas distorções ao longo da costa do Oceano Índico, no lado leste da África e o contorno e a proporção da Índia eram bastante diferentes da situação real. Isto porque naquela altura Portugal apenas tinha acabado de descobrir a rota marítima para a Índia há pouco tempo e os navegadores não estavam familiarizados com a geografia local. O desenho da zona leste à Índia são mais ambíguas e as proporções são obviamente erradas, o comprimento e a área da Península Malaia são desenhados duas vezes do que as da Índia. A cidade de Malaca está desenhada no extremo sul da península com uma nota de texto ao lado: Aqui se encontram os bens provenientes da Índia, bem como uma grande quantidade de bens da China.

Figura 10Proximidade do cruzamento da costa leste da Ásia e do Trópico de Câncer no “Mapa de Cantino”(parcial)

Não há nenhuma nota sobre Macau no mapa (Figura 10), mas regista-se o conhecimento inicial dos portugueses sobre o litoral sul da China nos primeiros tempos. O litoral da Ásia Oriental a leste de Malaca é simplesmente desenhado como uma linha quase recta, deixando muitos espaços em branco, indicando que esta é uma área quase desconhecida. O mapa representa o Equador e os Trópicos de Capricórnio e Câncer. No mapa, abaixo do cruzamento da costa da Ásia Oriental e do Trópico de Câncer vê-se uma foz do rio e ao lado há uma nota de texto a indicar que o local é Cochinchina (sendo Chinacochin no texto original, usado mais tarde como Cochinchina), que após o século XVI é chamado pela Europa como Vietname, e este rio deve ser o Rio Vermelho do Vietname. Uma grande ilha mais distante ao Rio Vermelho é pintada à cor vermelha viva, que pudesse ser a ilha de Hainan, suposta pela sua localização correspondente, mas é designada na nota por “Ilha de Pussa”. Na parte norte da orla costeira há um cabo maior (Figura 11), marcado com o nome “Quiritiria” e a nota que o local é rico em seda, cera, almíscar, especiarias e várias pedras preciosas. Portugal chegou ao litoral da China cerca de 12 anos depois, em 1514, mas ainda havia uma falta de conhecimento claro da situação do litoral da China, pois era provável que o mapa foi desenhado conforme os que vieram a saber junto às pessoas do Sudeste Asiático.

Figura 11 Cabo grande no norte da orla costeira da Ásia Oriental no “Mapa de Cantino”(parcial)

(II) Mapa do Mundo de Diogo Ribeiro

Diogo Ribeiro (? -1533) é considerado o mais famoso cartógrafo do início do século XVI. Actualmente, existem 5 obras de sua autoria, das quais 4 são do estilo “Padrão Real”. Diogo Ribeiro era de origem portuguesa, um capitão que participou nas viagens à Índia de Vasco da Gama de 1502 e de Afonso de Albuquerque (1453-1515) de 1509, e dominava os conhecimentos e as técnicas de cartografia. Mas em 1518, ele saiu de Portugal, como Fernão Magalhães e outros da época, e foi trabalhar para o Rei da Espanha até a sua morte. A frota de Magalhães utilizou os mapas desenhados por ele e os instrumentos náuticos, como bússolas e quadrantes3. A frota iniciou a jornada e em 1519 e completou com sucesso a primeira circum-navegação da Terra na História. Devido ao seu excelente desempenho, Ribeiro foi nomeado pelo Rei Espanhol Carlos I como o cartógrafo chefe da “Casa de la Contratación de las Índias” de Espanha, e os mapas desenhados pela sua equipa serviram de base aos mapas náuticos e os mapas-múndi oficialmente desenhados da Espanha.

O Mapa do Mundo de Ribeiro (Figura 12), coleccionado no Vaticano desde 1529, não é apenas a sua obra-prima, mas também um dos mapas mais famosos da Era dos Descobrimentos. Há uma descrição textual, respectivamente na parte superior e inferior do mapa: “Carta universal en que se contiene todo lo que del mundo se ha descubierto fasta agora, hizola Diego Ribero cosmographo de su magestad, año de 1529, e[n] Sevilla” e “La cual se devide en dos partes conforme A la capitulacion que hizieron los catholicos Reyes de españa y el rrey don Juan de portogual En Tordesillas Año de 1494”. O mapa desenha as últimas descobertas geográficas de Espanha, incluindo a costa da América, especialmente a costa leste-oeste da América Central, conhecida na época como a“Nova Espanha”e o Estreito de Magalhães. Das costas da África até à Índia e do Brasil, é claro que os mapas náuticos de Ribeiro também aproveitaram os conhecimentos e as descobertas dos portugueses.

Ribero Planisphere, 1529

Figura 12 Cópia de 1893 do “Mapa-Múndi de Ribeiro” de 1529, colectada na Biblioteca da Universidade de Harvard

O mapa estende-se para os dois lados tendo o Meridiano Papal como a linha média e o“Mare Sinarum”(o Mar da China que é hoje o Mar do Sul da China) é desenhado nas extremidades esquerda e direita do mapa. No mapa (Figura 13), o local do lado leste do estuário do Rio das Pérolas é marcada com uma palavra a vermelha “cantam” (Cantão). A intersecção do lado inferior direito de Guangzhou e do Trópico de Câncer é marcada com o nome do local "matan". A maioria dos mapas dos países ocidentes dos primeiros tempos, a marcação do local de Macau encontra se na margem oriental do Estuário do Rio das Pérolas, o que coincide com a posição de “matan” neste mapa. Nos mapas do litoral chinês, desenhados por ocidentais na primeira metade do século XVI, este local é muitas vezes marcado por “matan”. No entanto, nos mapas no final do século XVI, onde Macau é claramente marcado, o nome "matan" já não é mais usado. É muito provável que "matan" fosse o tratamento a Macau antes de os ocidentais pisarem este território, mas isto precisa de ser mais estudado para ser comprovado.

Figura 13 Guangzhou e “matan” no original do“Mapa do Mundo de Ribeiro”de 1529, no Vaticano

(III) Atlas náutico de Bartolomeu Velho de 1560

O cartógrafo português Bartolomeu Velho (? -1568) ficou conhecido pela sua precisão no desenho dos mapas estelares e mapas náuticos. Actualmente existem 4 conjuntos de mapas da sua autoria. O atlas náutico de pergaminho coleccionado na Biblioteca de Huntington (Figura 14) foi feito por volta de 1560, sem assinatura, e tinha sido considerado como obra de Dourado. Contudo, Cortesão comparou-o com outro atlas, preservado em Florença e assinado por Velho, fazendo análise especialmente do contorno das ilhas japonesas, bem como de muitos detalhes e manuscritos, julga-se assim que este é uma obra de Velho

Figura 14 Mapa do litoral a leste da Índia e do litoral sul da China no atlas náutico de Velho de 1560

Neste mapa, no lado direito do estuário do Rio das Pérolas é marcada a “cidade de cantam”, o que é semelhante ao Mapa-Múndi de Ribeiro de 1529, e à direita da qual é marcado o local “matam”. A diferença consiste em que neste mapa (Figura 15) é anotado por “I. da Matam”, isto é, “Ilha da Matam”, que se refere a uma ilha do estuário do Rio das Pérolas, mas como não há espaço suficiente para contar o nome, é escrito na terra. Na documentação antiga portuguesa, Macau era por vezes chamada “Ilha de Macao”, mas isto não pode provar certamente a relação entre “matan” e “macao”. Mais provas são necessárias para comprovar isto. Várias ilhas também são anotadas no mar fora do Estuário do Rio das Pérolas, como “I. da uiniaga” (ilha comercial) e “I. branca” (ilha branca, ou seja, grande estrela). Quando este mapa foi desenhado, Macau já tinha aberto os seus portos ao comércio, mas“macao” 4apareceu verdadeiramente em mapa só em 1570.

Figura 15 “I. da matam” no lado direito do estuário do Rio das Pérolas no Atlas de Velho

(III) “Atlas Universal” de Diogo Homem de 1565

Diogo Homem (1521-1576) é um membro da família Homem de cartógrafos por gerações de Portugal e um dos mais prolíficos cartógrafos portugueses dos primeiros tempos. Existem pelo menos 23 obras, incluindo 5 atlas náuticos denominados por“Atlas Universal”. Este “Atlas Universal” de 1565 (Figura 16) que se encontra na Biblioteca Nacional da Rússia foi desenhado em pergaminho e consiste num conjunto de 20 mapas que exibem completamente a vasta área desde o litoral leste da África até o litoral sul da China.

India Ocean and South-East Asia, Atlas Universal

Figura 16 Oceano Índico e os arquipélagos da Índia Oridental no “Atlas Universal” de Diogo Homem de 1565

O mapa utiliza “CHINA” para representar a China. No lado esquerdo do estuário do Rio das Pérolas na costa do sul da China, há anotações de “R. de cantam” (Rio das Pérolas) e “cantam” (Guangzhou, a letra “t” é coberta pelo Trópico de Câncer); o lado direito é marcado com “Ma_a” e a terceira letra também é coberta pelo Trópico de Câncer; fora do estuário do Rio das Pérolas é “I. Binniaga” (ilha comercial). Para o local “Ma_a” (Figura 17) aqui, as anotações textuais para o mesmo local nos mapas do mesmo período são “Maco”, “Malo”, “Mato” e “Matan” (acima mencionado), enquanto “l” e “t” podem ser muito provavelmente um escrito errado de “c”, ou seja, a letra coberta deve ser “c” e este local deve referir-se a Macau de hoje.

Figura 17 Macau no “Atlas Universal” de Diogo Homem de 1565

(IV) “Atlas Universal” de Fernão Vaz Dourado de 1570

Fernão Vaz Dourado (c.1520 - c.1580) é um português nascido na Índia portuguesa, considerado um dos melhores cartógrafos da segunda metade do século XVI. Actualmente, existem 6 atlas náuticos da sua autoria. De acordo com a investigação de Cortesão , há provas a mostrar que viveu em Goa durante muito tempo, participou em viagens e era muito familiarizado com o ambiente geográfico da Índia e do Sudeste da Ásia; além de ser bem educado, frequentou a Universidade de Coimbra. As suas experiências fazem com que as suas obras cartográficas são belas, relativamente mais precisas e de elevada qualidade.

East Aisa, Atlas Universal

Figura 18 Mapa do litoral a leste da Índia e do litoral sul da China no “Atlas Universal” de Dourado, coleccionado na Biblioteca de Huntington

Dourado desenhou vários atlas náuticos denominados por “Atlas Universal”, tendo aproveitado as descobertas geográficas e os últimos conhecimentos dos portugueses que lhe permitiu descrever de forma muito real das costas do Sudeste da Ásia e da China. O atlas náutico “Atlas Universal” de 1570 (Figura 18) preservado na Biblioteca de Huntington é o mais belo das obras de Dourado, que também pela primeira vez se anota o nome e a localização de Macau com a palavra “macao” na costa leste da foz do Rio das Pérolas num mapa onde está desenhada a China e o Sudeste da Ásia (Figura 19). Este é o primeiro mapa conhecido que marca Macau com a palavra“Macao”.

Figura 19 Macau no “Atlas Universal” de Dourado de 1570

Desde então, Macau aparece oficialmente nos mapas do Oriente desenhados pelos ocidentais e é gradualmente fixado sob a forma de "Macao", passando a ser uma cidade portuária que é desenhada no mapas da China, da Ásia Oriental e até mesmo nos mapas-múndi, a partir da segunda metade do século XVI até aos primeiros trinta anos do século XX.

Notas:
1Vigneras, L. (1962). “The Cartographer Diogo Ribeiro”. Imago Mundi, 16, 76-83.
2Cortesão, A. (1987). Portugaliae monumenta cartographica. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, vol.II, pp.107-109.
3Nos antigos mapas portugueses, Macau foi escrito sob a forma de “Macao” em vez de “Macau”. Também era conhecido como “Amacao”, a pronúncia de “A Ma Kong”.
4Cortesão, A. (1987). Portugaliae monumenta cartographica. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, vol.III, pp.3-8.


Data de atualização:2019/11/03

Sobre o(a) autor(a)

Yang Xunling

Nascido em 1978, formou-se nas ciências, mas adora literatura e história. É actualmente o Vice-Director da Biblioteca da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau. Trabalhou como bibliotecário há muitos anos e é um dos responsáveis do projecto “Macau nos Mapas Globais”. É Mestre em Biblioteconomia pela Universidade de Nanjing e é Doutorado pelo Instituto de Investigação Social e Cultural da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (Direcção de Intercâmbios Culturais Chineses e Ocidentais). Em 2013 a biblioteca iniciou o projecto “Macau nos Mapas Globais”e o Autor viu, coleccionou e organizou cerca de 4.000 mapas antigos relevantes nas visitas que fez ao Interior da China, Estados Unidos, Vaticano, Portugal, França e Reino Unido, tendo participado na compilação e edição de dois volumes de atlas e dois volumes de tese com o mesmo nome do projecto“Macau nos Mapas Globais”.

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